quinta-feira, 19 de maio de 2011

Clash


Olha, eu já achava Clash by night um filme fodaço de Lang. Mas revendo agora, vejo que simplesmente é muito melhor que seu experimento barroco, O segredo da porta fechada, que não consegue se libertar da aura caligárica; aqui, tudo é geometrizado, cadenciado pela linha diagonal e pela plongé perimetral; mas são os olhos de um epicurista ( os tarados do Mediterrâneo, digamos) que contemplam este mundo mineralizado, estigmatizado pelo sal, pelo sol e pela pedra, os anátemas da culpa.

Tudo é precisamente traduzido- arquiteturalmente, à la Lang- neste paradoxo glorioso: as tensões e recalques tenessee wiliamsianas dos personagens, o lado negro da força, são mostrados à luz do sol e da carraspana, da foda e do piquenique. É o contraste entre esta paisagem de cartão-postal e o huis-clos demoníaco dos personagens que garante ao filme o fôlego amplo e caricioso que ataca a gente depois das experiências limítrofes, o orgasmo ou a bebedeira. Respiramos leves e nulos, plenos. Mas sabemos que aquele instante epicurista de saciedade de nós mesmos é o limiar de uma negatividade absoluta: o começo do fim, do Nihil; a porta de entrada da aniquilação.

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