terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Noite e dia


Em Noite e dia, a série de aquarelas de uma Paris exilada- parece um De Santis ao terceiro dia, depois do Apocalipse de L'argent- é o pano de fundo para uma adaptação secreta do Idiota de Dostoiéviski; o cromatismo impressionista do cinema de Hong Sang é mortificado pelo ascetismo evangélico do personagem principal, que busca a plenitude no corpo da cidade e de um novo amor, mas só encontra a desolação de um jogo de cache cache com o tempo em vilegiatura que dá ao filme um caráter espiralado, ziguezagueante ; o esquema narrativo dos mundos compossíveis dos filmes anteriores aqui se concentra num único mundo, mas com várias bifurcações possíveis: o rapaz esbarra em uma moça, ex-namorada; tropeça em outra, conhecida da primeira, supostamente ninfomaníaca e mignone; é ciceroneado por uma terceira, estudante de pintura também, que mora com a segunda, por quem acaba por se apaixonar. Rohmer revisitado por Eustache, é dos filmes mais desencantados e extraviados de Sang Soo, com o enigmático A mulher é o futuro do homem.

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