sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Um dos meus textos favoritos no Dicionários de cinema: Jean Narboni sobre O desprezo.


http://dicionariosdecinema.blogspot.com.br/?zx=8082729a567e231d

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Les jous òu je n'existe pas, Fitoussi





Gérard Blain, certos Hanoun, certos Guiguet; acrescentem à lista outro sublime “bressoniano”: Fitoussi. Les jours òu je n’existe pas é a mais material das parábolas, a fábula mais presente. Junto ao materialismo do cinema, enfatiza-se com igual rigor o seu paradoxo opaco, rasteiro: ser arte “cercada de invisível por todos os lados” ( o fora de campo, de quadro); ser um conto iniciático, um ersatz metafísico da experiência, uma contemplação nirvânica do Real. Mas também o registro metódico ( maníaco) dos rastros que o corpo imprime às outras matérias, o relatório de devires fantasmagóricos, o sismógrafo de superfícies ressoantes de passos, encontrões e horror vacui. Uma e outra coisa? Não, a mesma e Outra. Sempre pensei que a porta que se fecha ao final de The searchers podia ser obra de homem, de morto, de sonho. O que importa é que a porta se fecha. Sim, o efeito antes da causa: como se o fito de toda matéria, de seu ricochetear e esbarrar no mundo, fosse suscitar a posteriori o aconchego da mão de um anjo guardião, de um demônio de sonho e cinza, de um Deus aposentado a reverberar no verão- que estas Fúrias e ninfas só existissem como efeito de um teatro das matérias, de um concentrado e transido trabalho de inervação do plano pela matéria. Não podemos esperar outro milagre; não devemos.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Texto meu na Revista Lumière sobre o "maneirismo pobre" de Júlio Bressane.

http://elumiere.net/especiales/bressane/manierismo_bressane.php

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Nova edição da Cinética, com pauta James Benning. Texto meu sobre Landscape suicide e Acéphale, de Patrick Deval.

http://revistacinetica.com.br/home/landscape-suicide-de-james-benning-eua-1987/

http://revistacinetica.com.br/home/acephale-de-patrick-deval-franca-1969/

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Máscaras e mascarados



Há um dos documentos mais relevantes que conheço sobre cinema: um filme “didático” feito por Rohmer para a televisão francesa sobre Louis Lumière, em que ele intercala trechos de seus filmes com um papo com os mestres Langlois e Jean Renoir. Em um determinado momento, Langlois nos dá a chave para compreender a complexa dialética mobilizada ali, e que tenta, pelos meios civilizados ( de la litote, comme d’habitude) que eram comuns aos três homens, desmistificar esta oposição, tão cara à crítica acadêmica, entre Lumière e Méliés. Ele nos lembra que Lumière “mandou” os operários saírem novamente da fábrica, porque a porta se fechava muito abruptamente e  a câmera não tinha tempo de “dar o tempo necessário” à captação daquela experiência lumpemproletária; fora o fato de que Lumière filmava num certo cadre ( limite espacial), num limite temporal ( devido à pobre sensibilidade à luz da película ortocromática), etc...Ele reencenava o espaço-tempo.

Todo cineasta sabe que o espaço que ele vê quando chega na locação não é o espaço da percepção ordinária, uno e contextualizado; é já um espaço pré-decoupado, pré-montado mentalmente- já “significativo”, proto-ficcionalizado. A prise de vue baziniana já carrega o selo do sentido e o filtro da magia. Um grande ( um dos maiores) filmes que trabalha esta dialética é Le sang des bêtes, de Franju, em que o lirismo e o horror contraem núpcias: o excesso de realismo da morte dos animais acaba por dar uma impressão de super-realidade ( surrealidade), por intercessão das mediações- as imagens dos arrabaldes “feéricos”de Paris. Feéricos no sentido de que estes nichos de clochards e crianças ao léu viram depósitos onde se acumula todos aqueles objetos encantados ( porque retirados da linha de produção de “troca” do capitalismo) que Rimbaud cita em Uma Temporada no inferno: refrões velhos, árias de ópera pitorescas, bonecas sem cabeça, etc ; objetos que, como as ruínas da capital francesa, inspiraram a Benjamin os collages , entre documentais e escatológicos ( mas há diferença, a esta altura?), de seu último livro-monumento.

Máscaras, de Noêmia Delgado ( 1976)  é destes filmes em que a dita oposição, desmascarada comme il fault, retoma o seu constelacionismo dialético: aqui, trata-se de fixar o olho “autopsista”, escrutinador e mecânico da câmera sobre as ficções, os jogos e as glosas do que acontece em torno.

Em cinema, arte onto-numinosa, basta saber ver para ver do que é feito o mundo: de mistério, maravilha e horror. É apenas isto o que todo grande filme nos sussurra e morde.

ps: e tem completo no youtube...

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Serial killer, Adachi 1969



A flânerie adquiriu no Ocidente uma aura- a aura!-, um stimmung fenomenogógico espectralmente utópico: nela  e por ela, o modus vivendi funcionalista da “divisão social do trabalho” capitalista era esterilizado: ao flertar com as vitrines e os transeuntes, deslocamo-nos e divergimo-nos , mas não apenas no espaço; diferimos, dessacralizamos o tempo que deveria ser destinado à produção, preenchido pelo modus operandi. Este diferir é democrático- ou antes: qualquer, casual, brincante. Serve ao artista, à criança, à puta, ao serial killer ( não seriam todos estes – antes da divisão social do trabalho, nosso vero vírus psicótico- flâneurs?). É isto que nos sussurram estas circunvoluções suburbanas, estas digressões inscritas sobre o cal e o concreto, estes mabusianos travellings fantasmas, estes devires-derivas: por aqui passou ( foi) um serial killer de  nome, identidade... ao filme pouco importa, como a qualquer ente digno de pronome: o seu espaço-tempo fantasma incrustou-se no espaço-tempo gregário e laboral dos que se apropriam da rua como meio- trajetória, via expressa, sarjeta- para fins que não lhes dizem respeito: gregários, laborais, quaisquer. Os travellings trânsfugas, os zooms estrábicos, os faux-raccords zuretas de Adachi tentam justamente inventariar este espaço ininventariável dos seres que habitam a cavidade, a fresta, a  réstia: crianças, mendigos, mortos,anjos e serial killers. E não é a estes zumbis ontológicos, grafittis do possível- nutridos com o sangue, o esperma e os pesadelos dos homens de bem e de ponto- que se destina toda arte digna de memorabilia?

quinta-feira, 14 de março de 2013


Nova e bela Revista Cinética no ar, agora com parâmetros críticos superiores- leia-se: hermêuticos, ensaísticos. Além do mais, uma extraordinária e divertida entrevista do Francis com Luc Moullet, espécie de cartão de visitas da nova cara e coragem da revista. Textos foda do Fábio Andrade e do Filipe Furtado, respectivamente sobre Caverna dos sonhos esquecidos e Django do Tarantino, cobertura de Berlin...E aqui links de quatro textos meus que me deram muito tesão e orgulho de escrever, sobre a escrotice Amour, Morrer como um homem ( pauta J.P.Rodrigues), O cinema de F.S.Ossang e O sopro do presente sobre O que se move de Caetano Gotardo. Enjoy!


http://revistacinetica.com.br/home/amor-amour-de-michael-haneke-francaalemanhaaustria-2012-2/


http://revistacinetica.com.br/home/o-que-se-move-de-caetano-gotardo-brasil-2012/


http://revistacinetica.com.br/home/o-cinema-de-f-j-ossang-da-parte-maldita-e-outros-luxos-punk/


http://revistacinetica.com.br/home/morrer-como-um-homem-de-joao-pedro-rodrigues-portugalfranca-2009/

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Bombando meu canal no youtube com novos vídeos. Postei A Morte e o Diabo do Sytephen Dwoskin completo,  dois curtas do Alain Guiraudie- La force des choses e Tout droit jusqu'au matin-, a cena final de Le mirage do Guiguet, além de trechos de Nocturno 29 do Portabella, Tam tam e Le chateau de Pontilly do Adolfo Arrieta.


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O diabo provavelmente










"Vade retro satana / Numquam suade mihi vana
Sunt mala quae libas / Ipse venena bibas". 
Evangelho de são Marcos, Jesus a Pedro. 8:33
Jesus a Pedro, Evangelho segundo São Marcos, 8:33

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Chaplin, Renoir, Lourcelles, Biette

Acho que não postei por aqui, mas tinha traduzido para o Dicionários um texto do Lourcelles sobre Verdoux, e  agora do Biette sobre Renoir, "a pretexto" do Monsieur Lange. Vão agora os dois links.

http://dicionariosdecinema.blogspot.com.br/2012/12/o-crime-do-senhor-lange-de-jean-renoir.html


http://dicionariosdecinema.blogspot.com.br/2012/11/monsieur-verdoux.html

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Holy motors




Féerie e terrorismo sempre foi um patrimônio francês: Lautréaumont, Rimbaud, Le sang d'un poète ( Cocteau), todo o surrealismo, o Buñuel dos primeiros filmes, Feuillade, O testamento do doutor Cordlier ( Renoir), Pierrot le fou, Change pas de main ( Vecchiali), Les nuits rouges ( Edith Scob!), Grenouilles de Arrieta, e claro Carax... Holy é a consequência lógica desta implicação surrealista tenebrosa: representar é um ato abissal e selvagem, que consiste em violar as superfícies do Logos e do Ethos e deixar emergir à flor da imagem o fantasma de que esta se nutre... Temos um filme sobre performance(s)? não apenas. Ou antes: filme sobre a performance como um ato terrorista que consiste em transformar o corpo organismo numa máquina, plástica e energética, de possessão demoníaca pelo Outro(s). A operação de guerra consiste antes de tudo em estratégia mediúnica de possessão; mas para que esta infiltração do Mesmo pelo Outro se dê, é necessária uma prévia e correlata operação de despossessão de si: o milionário vai assumindo todos os personagens à margem dele ou contra ele, os que o ameaçam ou o desmascaram: o traficante, o músico flanêur, o mendigo, o monstro do Ça, Cordelier...ele se acumplicia com o que prepara a sua destruição ( a nossa revolução?); não à toa, as mortes que Oscar vai sofrendo ao longo do filme... Neste corpo frágil e alquebrado – poroso à abertura , figurativa e dramática, ao circuito de personas- , o terror aparece sob o regime da metamorfose ( os tantos corpos , imagens e dispositivos que Holy nos dá a ver, reinventando o pós-moderno por um discípulo de Cocteau). Travestir-se em Outro, ser um xamã de presenças: esta é nossa arma e nossa maldição; a arma “mimética” de que dispomos para um tempo que nos exclui, a maldição que nos conclama a transformar o opróbio do capitalismo tardio em festejo de desterritorialização e- em um mesmo diapasão e movimento- crepuscular ocaso do Si Mesmo. Si, Orfeu; no pasarán.


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Il giorno della vita, Alessandro Blasetti


Questão que sempre me intrigou: do status de um contracampo...em Fassbinder, os contracampos são sempre muito distantes, mensurando a alienação dos personagens ( de uns para os outros e deles para o décor): uma radicalmente nova perspectiva sobre o mundo se abre; da sarjeta ao bureau de almoxarife , da chaise-longue de Guermantes à prisão de Notre dame des fleurs ( perversão sub-reptícia inter-planos: estariam tão distantes assim?)...nos clássicos, é quase sempre uma straigt line, que confronta ( antes: designa) as distâncias e as iminências, as arenas pupilares, e posterga ( sublima, ratifica, difere) o confronto propriamente: Noblesse oblige. No cinema primitivo, é choque frontal ( Lourcelles): proscênio contra ribalta.

Nesta obra-prima de sournoise crueldade, o contracampo assinala aquele espaço geralmente interdito no cinema de gênero: a clareira da testemunha, ser alheio à saraivada comumente reservada ao campo e contracampo, ente que habita fantasmagoricamente o fora de campo , instância fundamentalmente temporal ( memória, imaginário) que serve para estruturar nossa percepção contínua de um filme, arte descontínua -découpada espacial e temporalmente- por excelência...O filme narra a invasão de um convento de monjas dominicanas por partigiani fugindo dos alemães. Estas, por voto rigoroso consagradas à clausura, estão impossibilitadas de encará-los face a face; mas uma reconhece num dos partigiani o homem que matara seu marido, ex-oficial, e... Talvez o fato de Blasetti centrar no espectador ( ou testemunha) o efeito das ações do filme seja diegeticamente legitimado: a clausura necessariamente infunde à forma do filme um pudor suplementar, clássico-clássico, em que o olhar é baliza em surdina – sismógrafo, trop tard de- da experiência. Em que experienciar o evento é necessariamente chegar tarde demais- é reservar à pupila, nicho de separação, de a posteriori- sua sôfrega chaga. Olhar é sempre chegar tarde demais, oras!

...mas como estou pouco me lixando para diegeses e outros xaropes narrativos, geralmente suportes para críticos medíocres, centro-me na estratégia existencial- numinosamente- genial desta reserva, desta “centralidade e frontalidade” ( norma clássica , academicamente aposta por Mourlet como regra tout court)- centradas sobre a face do Outro. Pois é dele que se trata...não necessariamente humano: a santa que balança e quase cai, imantada e finalmente fulminada por forças que de transcendentes já nada tem ( a Guerra, a excitação sexual dos solados,o ressentimento do Madre). Ou a kammerspiel sequência na cave, quando do ataque dos alemães, em que blocos tensos e coalescentes de uma treva que insiste em se colar aos corpos constituem ilhotas de intensiva, energética expectação. Tudo e todos no filme de Blasetti são testemunhas- tudo é contracampo. Giorno della vita é dos filmes mais geniais que já vi porque, infiltrado e stacatto de planos sequências por todos os lados- e quão camerísticos e incisivos são seus tons e gestos, quão evanescente sua crueldade e violadora sua presciência!-, é um filme sobre o contracampo: sobre a impossibilidade de sermos plenamente num único e definido ponto do espaço-tempo, de precisarmos necessariamente nos deflagar e dispersa num Outro para sermos: assim como todo ente deve necessariamente desaguar numa alteridade parra ser reconhecido, em cinema campo e contracampo, plano e sequência etc.

E aqui não vai nenhuma punhetagem “logofílica”- sociológica, ontológica... O filme é de uma sobriedade desconcertante, de uma vitalidade mortificante, de um furor clarividente. Sinto-me tentado então a enumerar os paradoxos de São Bernardino de Siena ao enaltecer o esplendor do milagre onto-teológico da Concepção mariana: aqui, o infinito faz-se finito, a fulminação narrativa, a crônica de campanha Sturm und drang demoníaco, partida de xadrez entre a História e o Divino... mas Blasetti tira partido da crueldade inerente à estética clássica: nada se mostra ( ou não parece aparecer), até que seja tarde demais, e vejamos o horror que intersticialmente se mostrara até ali, sem que estivéssemos à altura dele: os cadres no cadre ( sequência genial da câmera “feito mira”, quando do combate primeiro com os alemães, no bosque defronte da igreja); a surdina e o “ser-rastro” com que os personagens deslizam entre um campo e outro, transformando um concertante Merry-Go-round de cortes em farfalhante sussurro de Nihil , em plano sequência cerzido entredentes ( o quão Hitchcock parece infantil, ao lembrarmo-nos dos fondus en noir de The rope!); e sobretudo esta genial intuição de mostrar-nos (?) a presença percebida unicamente como ausência- o tempestuoso e o ominoso sob a máscara do transparente e do rarefeito ( como na missa de Te Deum, da qual só vemos as pequenas, divertidas e ciciantes disputas entre os partigianni, em torno da igreja, contrapostas contra o reticente murmúrio de Eterno que rói o campo)... Este roer espelha por sua vez um canibalismo menos caricioso e bem-aventurado, digamos... os alemães continuam a rondar ( como o Deo Gratias de Haydn entoado aqui), e ao final voltarão a penetrar o campo, com exclusão de tudo o mais... O contracampo como fulminação, só que diferida- o tempo de um filme...

Ao final, esta“centralidade e frontalidade “ , em que a câmera parece corroer a pátina do rosto com os estilhaços da finitude, intenta se justificar... quando do evento monstruoso que fecha o filme, só vemos - na profundidade de campo em que o microcosmo do convento coalesce com o macrocosmo abissal da História à porta- a “coxia” do horror: os comandos extasiados em fúria, a marcha horizontal de soldadinhos histéricos, o braço marcial do comandante, o estrabicamente desvairado olhar de um tenente que parece recobrar a lucidez, por um momento... quando a câmera enfim retrocede e- partigiani agora reunidos, após a morte dos invasores- re-descobre o teatro do horrível massacre que encerra Giorno della vita, a cena, o proscênio e a ribalta do cinema clássico reconciliam-se: a quarta parede ( contracampo) retoma seu lugar no plano sequência, e dança... mas volta a se fechar ( a se entrincheirar ou entombar), no corte final em fondu...
Não foi para isto que nasceram os clássicos? Para dançar? Bizet, Kleist, , Musset, Shakespeare... affaire de coreografia, númen, Espírito ( do grego Pneuma, Ar: Leveza rules). Dancemos sobre os escombros...



Texto meu sobre O som ao redor o Kleber Mendonça na Cinética.

http://www.revistacinetica.com.br/osomaoredor.htm

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Cosmo




Cosmopolis é uma obra-prima, mas isto é um lugar-comum espectral que não diz ainda porra nenhuma do filme. Aliás, espectral diz. Ah, sim: a a teoria de Austin sobre os enunciados performativos talvez sugira um caminho para falar de um filme de ação onde a ação consiste unicamente em discorrer sobre a sua imponderável impossibilidade em nosso tempo e em nosso mundo ( mundo? tempo? do que se trata mesmo?).

"Enunciados performativos são enunciados que não descrevem, não relatam, nem constatam absolutamente nada, e, portanto, não se submetem ao critério de verificabilidade (não são falsos nem verdadeiros). Mais precisamente, são enunciados que, quando proferidos na primeira pessoa do singular do presente do indicativo, na forma afirmativa e na voz ativa, realizam uma ação (daí o termo performativo: o verbo inglês to perform significa realizar). (...) Exemplos: Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; Eu te condeno a dez meses de trabalho comunitário; Declaro aberta a sessão; Eu te perdôo. Tais enunciados, no exato momento em que são proferidos, realizam a ação denotada pelo verbo; não servem para descrever nada, mas sim para executar atos (ato de batizar, condenar, perdoar, abrir uma sessão, etc.). Nesse sentido, dizer algo é fazer algo. Com efeito, dizer, por exemplo, Declaro aberta a sessão não é informar sobre a abertura da sessão, é abrir a sessão."


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Carpenter, Vidor, Hawks: diacronia do Kairos

Billy the kid ( King Vidor, 1931)
Rio Bravo ( Howard Hawks, 1959)
Assalto à 13 dp ( John Carpenter, 1973)...

são virtualmente o mesmo filme. Uma América encurralada num espaço concentracionista, cagando-se de medo do Outro, da História, do Recalcado ( e subentenda-se seus respectivos contextos políticos apolcalípticos: o crack de 29 e o New deal; a sombra "mefistofélica" de Maccarthy ainda pairan

do sobre o liberalismo de Kennedy; e Wartergate).

Ou: da necessidade de substituição de uma crononologia evolutiva\exposivitiva por uma diacronia genealógica para captar a verdadeira temporalidade que imanta, anela e dispersa obras de arte...uma História de.

...pois sabemos que para os antigos Cronos era o tempo da sucessão efemérica, da acumulação anódina de dados e fatos "quaisquer"; era no tempo Kairos que se davam as grandes sínteses- a aurora da Revelação e da Redenção ( e aqui, do sentido)...
 

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O sentido da História Delahaye

Traduzi o texto do Michel Delahaye sobre Legiões de Cleópatra de Cottafavi no Dicionários de cinema. Divulguem. Texto foda sobre filme fodaço.


http://dicionariosdecinema.blogspot.com.br/2012/09/o-sentido-da-historia.html

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Jia

Pauta Jia Zhang ke na Cinética. Texto meu sobre Prazeres desconhecidos.


http://www.revistacinetica.com.br/prazeresdesconhecidos.htm

Billy Vidor





Vou fazer uma confissão: eu ontem vi um coice de cavalo. Pela primeira vez. E durou 5 minutos!, verdadeiro circo em locação, com todas as piruetas e ricochetes da sarabanda tentativa x erro. Um homem e seu cavalo; o homem, mais ou menos néscio, caipira e despirocado, antes presa que caçador- tinha um chapéu menor do que a cabeça, uma cintura fanfarrona, um ventre que mal cabia nos vãos do suspensório. E se precipitava sob a  pata do alazão...Pela primeira vez. E não foi para isto que o cinema nasceu? Para ver as coisas pela primeira vez? Com os olhos outros- como o foram um dia as “pupilas gustativas” dos cachorros, das crianças e dos répteis- de uma alienígena incrustação no olho do cu do mundo? Uma cova sob o planalto do visível? A arritímica fungada da cocaína, o sempiterno flash da epilepsia, o Hic et nunc do raio sobre Justine. Pedro Costa escreveu numa conferência em Osaka do espanto que era este cinema primevo- o espanto de ver um cachorro atravessar a rua e não saber(mos) se voltaria para casa. O fio finito da vida se esgueirando sob a malevolente crisálida do Fatum e da História, nela encarniçando-se e encaralhando-se: na próxima esquina, no vizinho contracampo, se entrincheira a gang de cossacos de cujo humor depende nosso trono, o raio casualmente fatal, o vômito de um deus? “Do Nada” (e para o Nada) pode estar tudo acabado... mas já??! e pela primeira vez... O filme se chama Billy the Kid, do demiurgo-macumbeiro King Vidor, e é de 1930. E foi o primeiro filme que vi na vida. 

quinta-feira, 26 de julho de 2012



Renoir+Dovjenhko+Rossellini+Cottafavi+Rouch.

Palio, Blasetti





Em Palio ( 1932), Blasetti fazia na Itália o que Renoir encenava na França e Barnet “brincava” na Rússia: cinema moderno. Basicamente, esta competição entre cavaleiros numa cidade medieval da Itália se resolve em uma série(s) de digressões, duos e tercetos entre os atores ( com direito a piscadelas mais do que extra-diegéticamente maliciosas para a câmera), panorâmicas “backstage” e contracampos estridentes, que garantem o lugar da platéia no campo. Por que cinema moderno? Porque teatro. Como assim teatro? Porque tv, sem mais. A tv é o teatro do nosso tempo, ou seja: o “ao vivo”. O corpo do ator, o tumulto indisciplinado do fora de campo, a oxigenação do studio system pela  vida e pela morte, embalsamadas de féerie. Cassavetes, Arrieta, Rouch e Shirley Clarke já estão aí, espiando atrás da coxia. (Minto: da quarta parede).  Filme indispensável na formação de qualquer cânon genealógico.

domingo, 8 de julho de 2012




O filme do Ferrara me parece um esboço de algo maior que vem por aí. Ou um experimento, se quiserem. Com privilegiados encontros epifânicos- como se deve esperar de um filme que versa sobre o Apocalipse; a linda transa do início, o menino vietkong, o Vento da Morte. Mas um esboço. O curioso é que é um filme simétrica e inversamente proporcional ao Assassino da furadeira: huis clos narcisista e niilista ali, huis clos contemplativo e terapêutico aqui, e ambos centrados sobre a criação de um(a) artista plástico ( um serial killer, uma histérica que tenta chegar à ascese). O neo-demiurgo para um mundo possível a advir?