domingo, 27 de março de 2011

Lesson des tènébres

Revendo o kammerspiel novela das 8 Anjo negro... Brisseau é um neo-classicista, mas que pinta seus tableaux como Lorenzo da Ponte e Marivaux: da cozinha. O estudo moralista, a novela pedagógica e a pintura romântica dos séculos 17 e 18 –Poussin, Ingres, Delacroix- tem aqui sua reedição, discretamente ironizadas por esta indistinção esquizóide entre sonho e vigília, que transgride os padrões racionalistas franceses do século das Luzes com uma tinta de boutade pulp, fetichista e hipnagógica, Éluard e Breton no comando...

E Anjo negro, como alguns de seus melhores filmes- Un jeu brutal, Céline, À l’aventure- é também um filme pedagógico, em que uma trajetória exemplar ou uma lesson des moeurs é reproduzida/recitada por/para um outro personagem... mas aqui não há ascese, transfiguração; só uma odisséia niilista ao coração das trevas engalanadas- cores fúnebres: o dourado, o vermelho e o negro- da Terceira República; A filha aprende com a mãe a ser puta e venal, e por fim a destruí-la, como a mãe ao mundo ( os tiros no final, que retomam simetricamente o início do filme). Mas não se sai com nada de novo daí- como Céline com a Iluminação mística, ou a aluna de A aventura com a Física de Lucrécius, e todas as personagens reconciliados com o cosmo, mesmo e sobretudo quando arrasadas, reintegradas enfim ao Uno, como ao final de De bruit et de fureur. Aqui, ficamos com as sombras e o caos, infinitos, como bem ilustra a epígrafe de Éluard.

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