quarta-feira, 6 de abril de 2011

Dons


Engraçado: com Accattone- que revi para o curso-, revi também dois outros filmes que adoro- Dilinger está morto e Passageiro: profissão repórter. Accattone é transparente, de uma luz diamantina: meridional, puerperal, presente como uma paixão recém-nascida ou uma morte por sagrar. Os outros dois, pelo contrário, são das coisas mais fantasmagóricas que já vi em cinema: uma fantasia niilista sobre a insônia (Dilinger) e um road movie sobre Um que é um Outro, e não cansa de buscar o ponto de intersecção desta comédia de erros existencial, entre Madrid, Roma e o deserto ( melhor lugar para se perder, só um plano seqüência de Astruc). Mas pensando bem, são filmes sobre a Morte: sobre a Morte como Summa da vida ( Accatone), in retrospecto. E no caso dos outros, sobre- como dizia Cocteau- la mort au travail, esta morte que torna o cinema uma arte tão graficamente invisível e evanescentemente visível, para( doxa) encarnado: dom do Nada e Presença do Dom.

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