quarta-feira, 27 de abril de 2011

Olhos sem face

Olhos sem face parece um Lang que tomou muito Château Lafite: asséptico, grisâtre, bisturi mordendo a bruma; entre Frank Wright e comics, e basicamente o horror do filme consiste na utilização de um décor gelidamente neutro- leia-se: teoremático- como matéria-prima de uma féerie assombrada, povoada de espectros infantis e obsessões paranóicas à la Mabuse: o Logos a serviço do demoníaco. Muito da posterior associação do Mal no cinema com o informe e o infigurável sugerido pelo branco, arauto lácteo da Morte (e, em sua alteridade fantasmagórica, uma cor gêmea do negro) surgiu daí; em um The fog, por exemplo. É um conto de fadas, mas recitado pelo ponto de vista, míope e lacrimejante- o nevoeiro prateado de Shüfftan, a balada tatibitati e mortuária de Jarré- do injustiçado monstro ( Borges, no Abenjacan: Ariadne, o Minotauro apenas se defendeu!).


Nenhum comentário: