segunda-feira, 27 de junho de 2011

O rosto

Revi agora O rosto do Bergman. Uma lição atrás da outra de como se fazer economia do contracampo: basicamente, renquadramentos à la Lang que expõem os confrontos fenomenológicos entre consciências que o filme enfeixa num panorama entre histriônico e tenebroso; vaudevilles, clins d’oeil expressionistas, recitativos de bruxas, solilóquios de monstros ( um Frankenstein frígido que aspira a Hyde, um Hyde que suplica por redenção), tudo num sótão feérico à la Cocteau, laminado por uma pátina de jacobean revenge drame. Pugilismo frontal ( comme il fault) infiltrado por todas as nossas assombrações ( de poder) da infância. A ver em dupla com o Judex do Franju, outro conto de fadas contado pelo duende da história.

sexta-feira, 17 de junho de 2011


Revisto O conformista e... que marmelada!Bertolucci confunde maneirismo com decorativismo; o filme é um pastiche de Oito e meio, num décor gangrenado pela (triste) memória de Speer: neo-clássico fanfarrão. O fato de que as únicas cenas decentemente découpadas sejam as com Stefania Sandrelli mostra que Bertolucci é capaz apenas de ilustrar jogos fúteis e regressivos, sem o menor aplomb negativo.


Revisto O conformista e... que marmelada!Bertolucci confunde maneirismo com decorativismo; o filme é um pastiche de Oito e meio, num décor gangrenado pela (triste) memória de Speer: neo-clássico fanfarrão. O fato de que as únicas cenas decentemente découpadas sejam as com Stefania Sandrelli mostra que Bertolucci é apenas capaz apenas de ilustrar jogos fúteis e regressivos, sem o menor aplomb negativo.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Pauta Hou Hsiao foda na Cinética, com dois textos meus sobre Poeira ao vento e Adeus ao sul:

http://revistacinetica.com.br/houmenu.htm

terça-feira, 14 de junho de 2011

Agatha et les lectures


Agatha é um filme possuído por um tal soberbo amor pelo Nada que parece um comentário secreto- um his clos incestuoso assombrado por marinhas- sobre o Holocausto: aqui, como lá, a fome de Nihil , em sua plenitude oracular e negativa, busca inclusive apagar os traços da própria destruição.

domingo, 5 de junho de 2011

sábado, 4 de junho de 2011

Belle Notas



Visto Belle toujours. É curioso como o cinema de Oliveira nos leva a prestar uma atenção enorme ao plano- a vasculhá-lo- em busca de uma resposta, um deciframento: mas afinal, o que se esconde ali? qual o mistério destas estátuas que nos devolvem o olhar, destas intrigas sem desenlace, destes contracampos sem campo? Estas superfícies que seu cinema inspeciona tão ciosa e circunspectamente esconderão alguma história? ocultarão alguma profundidade? serão a alegoria - a parábola, uma paráfrase- de algum estranho e infinitesimal mundo que ao olho humano é interditado penetrar?
Não há nada. Nada "por trás", nada além, nada de profundo; tudo é rigorosamente superficial, precisa e hieraticamente relativo, escorreito e brilhante como estas fábulas moralistas do século 17 que parecem tê-lo marcado tão intensamente. O mistério é este: que nada possui um mistério. O que confunde e fascina é isto: que é. Sem mais. E no entanto, o olho humano não pode se furtar a imaginar profundidades, a suspeitar devires, a entrever sentidos, supra- extra-ordinários. Bicho simbólico, coitado, destinado a desvelar essências, a fuçar associações, a perversamente imprimir à Natureza o selo da cultura, a "castrá-la" ( representação). É deste jogo que vive o seu cinema: do simbólico e da presença, da mise en scène e da manifestação, da superfície gloriosa do percebido e da profundidade insondável do imaginado. De alguma forma, todo grande cinema moderno- Rouch, Straub, Rivette, Fassbinder- trata deste jogo.
Pois é um cinema que trata de cinema, esta arte perversa que se serve das coisas "presentes, manifestas", para engendrar artifício, para sugerir o oculto e o insondável ( inexistentes); e de artifício ( teatro, teatro, teatro) para nos lançar abissalmente num mundo de superfícies espelhadas, que já não espelham nada. ( Daney: Oliveira é um grande cenógrafo).