quinta-feira, 31 de março de 2011

Texto meu sobre Desejo Humano na Cinética.

http://www.revistacinetica.com.br/desejohumano.htm

terça-feira, 29 de março de 2011

Cockfighter e outros

Cockfighter do Hellman é mesmo um filme sobre sacrifício ( expiatus est, Números 19:20) e a impossibilidade de se reconciliar com o passado- ou redenção, como um dia chamaram os habitantes de uma improvável Canaã. Não por acaso, estou fazendo uma constelaçãozinha cá comigo, revendo au hasard capítulos do Berlin Alexanderplatz, do Fassbinder. Mesma toada expiatória, mesma pedra lançada à sombra da casa por-vir, como na parábola de Rocco e seus irmãos. As coisas flutuam pelo ar mas caem no mesmo poço, escuro e pútrido.

domingo, 27 de março de 2011

Lesson des tènébres

Revendo o kammerspiel novela das 8 Anjo negro... Brisseau é um neo-classicista, mas que pinta seus tableaux como Lorenzo da Ponte e Marivaux: da cozinha. O estudo moralista, a novela pedagógica e a pintura romântica dos séculos 17 e 18 –Poussin, Ingres, Delacroix- tem aqui sua reedição, discretamente ironizadas por esta indistinção esquizóide entre sonho e vigília, que transgride os padrões racionalistas franceses do século das Luzes com uma tinta de boutade pulp, fetichista e hipnagógica, Éluard e Breton no comando...

E Anjo negro, como alguns de seus melhores filmes- Un jeu brutal, Céline, À l’aventure- é também um filme pedagógico, em que uma trajetória exemplar ou uma lesson des moeurs é reproduzida/recitada por/para um outro personagem... mas aqui não há ascese, transfiguração; só uma odisséia niilista ao coração das trevas engalanadas- cores fúnebres: o dourado, o vermelho e o negro- da Terceira República; A filha aprende com a mãe a ser puta e venal, e por fim a destruí-la, como a mãe ao mundo ( os tiros no final, que retomam simetricamente o início do filme). Mas não se sai com nada de novo daí- como Céline com a Iluminação mística, ou a aluna de A aventura com a Física de Lucrécius, e todas as personagens reconciliados com o cosmo, mesmo e sobretudo quando arrasadas, reintegradas enfim ao Uno, como ao final de De bruit et de fureur. Aqui, ficamos com as sombras e o caos, infinitos, como bem ilustra a epígrafe de Éluard.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Un jeu


Revisto Un jeu brutal, esta obra-prima absoluta ( e absolutum), ainda secreta , sabe lá Satã porque. É realmente incrível como Brisseau consegue uma das fusões mais extraordinárias entre Hitchcock e Buñuel sem perder em nada de sua transparência irônica de heresiarca do século 18, sua nonchalance caipira e esta aspiração cósmica, esta perversa viração sub specie aeternitatis, que em seus filmes se confunde tantas vezes com o outonal aroma da danação...

terça-feira, 22 de março de 2011

A Religiosa


vi La religieuse ontem e... é genial como Rivette ( by Diderot) transforma um proto-exploitation num filme evanescente e coleante sobre mise en scène encarnada; é uma adaptação do credo da "graça epifânica" rosselliniana ao divertissement do século 18: bailados, mazurcas, quadrilles festejam uma carne mortificada, que só pode exister eroticamente "para a cena e pela cena". E que austeridade raciniana!, transposta para o corte, glacialmente cortante como uma réplica de Courtelin.


sexta-feira, 18 de março de 2011


"J’oublie toujours le début du film. J’oublie que le vrai père a été assassiné. Je confonds l’assassin du père avec le père. Je ne suis pas seule dans ce cas. Beaucoup de gens m’ont dit faire la même erreur, comme si ce père n’avait de réalité que du moment qu’il a été tué et que ce soit de celui qui lui a donné cette mort de la vie duquel il participe plus encore que de la sienne propre. Dans la Nuit du chasseur je ne vois pas la vie créée, je vois la mort créée. Je ne vois pas le père avant sa consécration par le meurtre opéré sur sa personne. J’ai vu quatre fois le film et je fais toujours cette erreur. Je n’arrive pas à voir le père vivant. Après qu’il a été tué, je vois, à sa place, le criminel. Sa place occupée par lui. C’est sur cette erreur que j’ai toujours vu et construit le film de Charles Laughton.
Je vois la mère atteinte de la même inexistence que le père, et, comme lui, tuée. Mais là, je la vois tuée par lui à force d'enfantements et de corvées, de misères. Je la vois comme non avenue. Je vois le début du film truqué et que Charles Laughton n'a pas osé faire du père, directement, le criminel de ses enfants. Je le fais pour lui, à sa place. Je dis: le criminel est le père, et c'est de cette boucherie, de ce massacre que je vois naître et sortir les enfants comme d'un corps et d'en partir comme d'un pays natal. Ici, un jour, le détachement s'accomplira. Ce qui prend vingt ans prendra trois ans: le détachement de la mère."



http://theballoonatic.blogspot.com/2011/03/la-confluence.html


... a ler com o texto do Douchet sobre Bigger than life.


Traduzi para o Dicionários A borboleta de Griffith do Biette, um dos textos fundamentais da crítica de cinema.

http://dicionariosdecinema.blogspot.com/2011/03/borboleta-de-griffith-por-jean-claude.html

quarta-feira, 16 de março de 2011

Rozier (s)


Revistas as aventuras O náufragos da ilha das tartarugas e Maine ócean. Rozier é um Duke Ellinghton de aquarelas: seus filmes são jam sessions de primeira grandeza , partituras-constelações de humores, atmosferas, texturas (mas que staccato melancólico à la Tyner nos finais!) A oposição estabelecida por Bouquet entre um cinema do plano ( clássico) e um cinema do fluxo aqui é totalmente “suprassumida” por uma precisão mineral do plano e um marítimo serpentear das seqüências. Como sempre, os críticos estão na retaguarda e os artistas na vanguarda da trincheira, no comando do Blitzkrieg da expressão.

terça-feira, 15 de março de 2011




http://www.criterion.com/boxsets/808-eclipse-series-27-raffaello-matarazzos-runaway-melodramas

E o que parecia milagre aconteceu: um box da Eclipse em junhop com os melodramas do Matarazzo. Se a Criterion lançar boxes do Freda e do Cottafavi, aí eu me converto: Deus existe.

segunda-feira, 14 de março de 2011

domingo, 13 de março de 2011

Jogos


Revisto o dolorido jeu de massacre - tradição de roleta russa que os franceses dominam tão bem-La vie est comme ça, Brisseau. Um tema fassbinderiano por excelência- a auto-destruição induzida por pressões do meio- tratada de uma forma anti-fassbinderiana: crônica dispersiva, extenuada e com tintas de charge sobre uma gente que não encontra lugar no mundo, e acaba expulsa do plano ( e da vida). Mais do que nunca, ponto de vista em cinema é uma operação de inclusão e exclusão, de vida e de morte.

quinta-feira, 10 de março de 2011


Revendo a morte do cego em Suspiria há pouco... uma releitura genial dos artefatos do cinema primitivo: o único efeito especial que Argento se permite usar é o teatrinho de sombras que perpassam pelo prédio. Tudo o mais é questão de décor, proximidade maior ou menor da câmera em relação ao objeto, jogo de atração e repulsa, como em todo cromo de Grand Guignol: o terror está - é- o espaço que medeia entre um e outro. Nesta ênfase no horror vacui que se encarna no perímetro do plano, tanto ele quanto Carpenter são herdeiros brilhantes da obra de Lang.


...e de Tourneur, é claro.

quarta-feira, 2 de março de 2011


Há uma sequência extraordinária em Macao do Sternberg que vi há pouco ( obrigado por morrer, Russell!). Ênfase absoluta nos detalhes do plano ( em corpos, em ângulos, em rastros), e não na respiração entrecortada da sequência; o que encarece, em chave paranóica, a dimensão fetichista de seu cinema. Foda.

terça-feira, 1 de março de 2011