terça-feira, 31 de agosto de 2010


Bruno Cremer

1929-2010

quarta-feira, 4 de agosto de 2010




"L'aigle, le corbeau, l'immortel pélican, le canard sauvage, la grue voyageuse, éveillés, grellottant de froid, me verront passer à la lueur des éclairs, spectre horrible et content. Ils ne sauront pas ce que cela signifie. Sur la terre, la vipère, l'oeil gros du crapaud, le tigre, l'éléphant; dans la mer, la baleine, le requin, le marteau, l'informe raie, la dent du phoque polaire, se demanderont quelle est cette dérogation à la loi de la nature."

Os cantos de Maldoror, Lautréamont


Tudo em Monteiro, como em Lautréamont, nasce da pulsão. A metamorfose, o princípio plástico e ontológico de seu cinema, é carnívora: transformar-se num Outro é digerir e assimilar-lhe a Persona- trocar de máscara-, e assim centuplicar a própria força; é instilar no predador a centelha do divino, como na mística de certas tribos canibais: Devoro-te ou decifra-me. Uma espécie de féerie do demoníaco: a única transfiguração possível a um herdeiro de Stroheim e Buñuel.



Broken Blossoms


Revendo a pérola Lírio partido, pensando em Lang, Tourneur e na posteridade do que nas origens se avizinha do fim...Um maëlstrom de fúria que se abate sobre um cubículo, um titã sobre um lírio... Concentracionismo do melodrama vitoriano: posições e oposições do opressor – no centro do quadro, ou à direita- e do oprimido, abaixo do quadro ou recostado contra seus limites, geralmente à esquerda: esmagado ou entrincheirado. Toda uma ontologia e deontologia ligadas à superfície material do plano, este campo randômico de forças que se encarniçam em ocupar o centro do quadro, e neste ( por este) o podium da arena; expansão irrefreável da força, centrífuga e centrípeta irrupção da Morte, rajada de Nihil que propulsiona a criatura para os limites indevassavelmente recuados do fora de quadro, reserva da memória e da imaginação, onde ainda podemos retê-las, resguardá-las, mas apenas in memoriam, trop tôt, trop tard, o tempo de um contracampo- que aliás não vem, nem virá nunca, pois já não há a quem cor-responder ou contemplar.