Revi
ontem o Harold and Maude, habitué da Sessão da tarde no tempo em que eu
"não via filmes", e sim acompanhava histórias e lambia pitorescos. Uma
devastadora visão da America Law and Order nixoniana. O rapaz vira um
campo laboratorial de todas os horrores que o conformismo gerava (
geria) à época; o equivalente ao que o Théatre panique fazia em Paris um
pouco antes, só que em chave depressiva- masoquismo
a serviço da dialética, auto-destruição como a fotocópia superexposta
da Utopia que hoje nos é impossível celebrar. Então, viva a Distopia! O
golpe de gênio é o suicídio de Maude, assinalando em pleno carnaval do
movimento hippye a cortisona decadentista que corroía sua aspiração à
reconciliação, que os votava irremediavelmente à caricatura caduca que
desde sempre foram. Como dizia Adorno em qualquer página, celebrar o
Novo num mundo em ruínas- ou falar em Paz e amor quando a Guerra do
Vietnã bota pra foder-, é regressivo, é acumpliciar-se com o Mal. E
Maude sabe disso- e os personagens de L'enfant secret também. Só que
Harold é de 1973!, e o filme de Garrel é contemporâneo do crepúsculo e
da détresse dos 80.