sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Billy Vidor





Vou fazer uma confissão: eu ontem vi um coice de cavalo. Pela primeira vez. E durou 5 minutos!, verdadeiro circo em locação, com todas as piruetas e ricochetes da sarabanda tentativa x erro. Um homem e seu cavalo; o homem, mais ou menos néscio, caipira e despirocado, antes presa que caçador- tinha um chapéu menor do que a cabeça, uma cintura fanfarrona, um ventre que mal cabia nos vãos do suspensório. E se precipitava sob a  pata do alazão...Pela primeira vez. E não foi para isto que o cinema nasceu? Para ver as coisas pela primeira vez? Com os olhos outros- como o foram um dia as “pupilas gustativas” dos cachorros, das crianças e dos répteis- de uma alienígena incrustação no olho do cu do mundo? Uma cova sob o planalto do visível? A arritímica fungada da cocaína, o sempiterno flash da epilepsia, o Hic et nunc do raio sobre Justine. Pedro Costa escreveu numa conferência em Osaka do espanto que era este cinema primevo- o espanto de ver um cachorro atravessar a rua e não saber(mos) se voltaria para casa. O fio finito da vida se esgueirando sob a malevolente crisálida do Fatum e da História, nela encarniçando-se e encaralhando-se: na próxima esquina, no vizinho contracampo, se entrincheira a gang de cossacos de cujo humor depende nosso trono, o raio casualmente fatal, o vômito de um deus? “Do Nada” (e para o Nada) pode estar tudo acabado... mas já??! e pela primeira vez... O filme se chama Billy the Kid, do demiurgo-macumbeiro King Vidor, e é de 1930. E foi o primeiro filme que vi na vida. 

Nenhum comentário: