quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

L'étrangleur, Vecchiali


Seria interessante comparar esta obra-prima com o didático e tagarela ( não há oposição entre estes termos, justamente o contrário) Partner e ver até que ponto duas estratégias radicais de maneirismo implicam na auto-implosão do maneirismo: Um pathos de gestos lancinantes e cenas hiperbolicamente performáticas se perdem nas volutas de suas próprias trajetórias, descrevem semi-círculos aleatórios em torno de seus ritos alegóricos e vão se reencontrar mais adiante, à bout de souffle. O passeio do assassino Jacques Perrin pelo carrossel cocteaunesco de fantasmagorias de infância; o tema do duplo, aqui paródico na figura do ladrão que segue o encalço de Pérrin para pilhar as vítimas, intrusão de Fleischer e James Cain num universo de Grémillon; a ubiqüidade coreográfica do corpo, saturação de signos exuberantes por uma força que os condena à repetição, à concêntrica expiação de seus próprios limites, mescla de Gene Kelly e Pierrot Lunaire; estas são características que magnificam L’etrangleur como uma experiência limítrofe, um grau zero do maneirismo, seu ponto de exaustão e oclusão: enclausuramento do significante na aura mortal da féerie, circuito enfeitiçado de correspondências e insistências mórbidas- o foulard do assassino, a cena primária do túnel que leva ao crime, a consangüinidade circular dos trajetos do policial, do assassino e da mulher, caça e caçadora- que emula o fascínio do espectador, a presa maior deste sinuoso fliperama de prestidigitações no espaço e bifurcações no tempo.


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