terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Opening/Carruagem


O que Renoir faz em Carrosse d’or na vertical ( profundidade de campo, campo cache-cache, concentricidade da perspectiva) Cassavetes explora em Opening night na horizontal, com esta vertiginosa contigüidade de espaços, reversíveis e itinerantes, em que copa, cozinha, hotel e palco viram atalhos para um único quarto e sala, habitado por vários fantasmas. Do que falam ambos? Que a rigor não há diferença entre teatro e vida, que o teatro é uma forma de experiência e que a vida é uma máscara que cola na cara, até vir o tempo e cambiar a lantejoula - ou defenestrar o suporte. Lá ( Carruagem de ouro), Camilla vive no inter, limbo da representação onde é cortejada ora pela ópera bufa, ora pelo slapstick, pelo cartoon e pelo vaudeville... Aqui, Rowlands também se equilibra ( mal) na corda bamba de ser e de encenar: jovem e histérica (fantasma) versus star amaneirada e com doses destrutivamente cavalares de auto-ironia, gim e clins d’oeil dietrichianos; mas também quadro e fora de quadro: a arena do palco filmada em planos médios e impromptus ziguezagueantes mais a coxia, vero leito de Procusto de quem usa máscaras e desaprende a tirá-las.


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