sexta-feira, 30 de julho de 2010

Arrieta 1




A imanência contém uma infinidade de mundos. Não se trata de incorrer no solipsismo fácil, atribuir esta diversidade à variedade perceptiva dos seres que a habitam. Não. Na verdade, sempre estiveram lá, mas para que algo seja é preciso, antes de tudo, que seja percebido, como desde sempre nos ensinaram Berkeley e Spinoza, com sua ontologia expressionista. O cinema de Arrieta me parece explorar este princípio: há um assemblage de diversos dados perceptivos, uma série composta por vários estímulos- um cão ladra, dublado aliás pelo diretor; uma mulher corre, alguém ouve música-, depois esta série é recomposta em diversas direções ou segundo distintos padrões rítmicos, de acordo com as dimensões ocupadas por cada personagem, pelas situações que estes definem através de seus gestos , pela concentração ou dispersão da durée que estes gestos e deslocamentos suscitam. Geralmente, uma epifania- a figura do anjo, ou um acorde imprevisto de música, o modo como a luz vibra através de um corpo, filmado de forma enviesada, numa contra-plongé por exemplo- desempenha o papel de catalisador desta reunião aleatória de impressões, que subitamente se coagulam numa visão.
É tristemente paradoxal dizer isso, depois de tentar analisar um cinema tão singular, mas antes de tudo são filmes para serem vistos e descritos, jamais dissecados ou "conceituados".

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