sexta-feira, 30 de julho de 2010

édipo 1



Esperamos, indefinidamente. Talvez demais, entredentes eu murmurava. O incalculável tempo que se leva para chegarmos a ser quem realmente deveremos nos tornar, o tempo que toda tragédia reservou ao hieratismo e aos ditirambos do coro, o tempo de trocar a máscara e de, assim, retomar a velha ciranda cíclica, Deuses e Homens, Semideuses e Mortais, todos sob um mesmo e único círculo, trocando apenas de posição e de papel. É a este tempo- o tempo trágico- que Danièle Huillet nos quer introduzir, ao tensionar a corda melódica do plano até o limite em que esta estaca diante do insondável, do silêncio de que toda música e toda imagem estão grávidas: fiquemos por enquanto com o rugido iracundo do vento nas árvores, com os arquejos de Tirésias- que um dia foi mulher, que também trocou de máscara, como Édipo trocará, velho novo giro-, com a textura salitrosa da foto de Giovanni Canfarelli, com o dom da luz sobre os corpos dos homens, voltados contra nós e para o tempo em que serão Outros.

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