sexta-feira, 30 de julho de 2010

O príncipe das trevas




Revendo o extraordinário Príncipe das trevas, me veio um Insight que aproxima muito o filme de Halloween, outra obra-prima por sinal: a distância da câmera em relação ao seu objeto (abundância de planos gerais) apresenta-nos o Mal não como um Ser, uma substância, materializável em um ou outro fenômeno. O Mal existe em tudo ( o espaço do plano); ele é uma categoria transcendental: espaço, tempo, luzes, sombras. Tanto que em O príncipe das trevas a fenomenologia do horror é múltipla e descentrada: grávidas vampiras, o retorno do reprimido numa gang psicopatas- aliás, este “círculo" de um poder paralelo que progressivamente vai cercando e aniquilando um poder oficial relfete o mesmo esquema político-apocalíptico de Assalto às 13 dp-, uma colônia de formigas insufladas pela fome de disseminação do caos. Tudo- espaço,corpos, ou tempos, na mensagem enviada por uma consciência futura ao presente agônico- encarna uma presença que a rigor nunca esteve presente ( o caráter subatômico da onimosa força). Há uma herança claramente languiana na forma como o plano é, ora um planalto escarpado pela destruição iminente, com uma profundidade de campo que achata os personagens, reduzindo-os a meros peões de um invisível xadrez de energético; ora como uma ratoeira ( o espaço em que o chinesinho está encerrado, encurralado pelas três mulheres do outro lado do cômodo, me lembra muito o casal asfixiado pela infiltração de água, no Testamento do doutor Mabuse) , e que também atualiza uma das grandes lições de vários curtas de Griffith, feitos para a Biograph, particulamente Musqueteers de Pig Alley e Burglar’s dilemma: o trabalho com os limites do plano, e provavelmente da vida. Estar no limite do plano é estar na iminência de passarmos para outra dimensão, ou para nenhuma dimensão ( a abdução pelo Nada que se encarnara até então no espaço do plano, a sarjeta do ser). De não estarmos mais. A subtração/evasão/escavação do plano é uma sentença irrevogável de morte, como nos mostra aquele manequim zumbi que , filmado em plano geral ( plano subjetivo dos cientistas na janela), vai sendo desintegrado de sua humanidade , mecânica e burlescamente: uma das imagens mais figurativamente densas da passagem, poucas vezes mostrada com a materialidade que é devida ao cinema, do animado ao inanimado, do Ser ao Nada.

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