sexta-feira, 30 de julho de 2010

Dias de paraíso




"Passando pela aldeia
A terra órfã recolhe ainda raras espigas
Seus olhos arregalam-se redondos e dourados no crepúsculo
E seu colo espera o noivo divino"

De Profundis, Trakl.










Malick não aprofunda nada; roçamos a superfície dos seres e do tempo: gestos soerguidos por um instante da regularidade taciturna da duração; amniótica aragem de corpos que por um instante pousaram sobre o plano; morre-se casual, discretamente, sobretudo num átimo de segundo, e já estamos do outro lado, confundidos com o vento e os seixos do caminho; um corpo entre outros, como Richard Gere no final do filme...os personagens de Malick ( contemos entre estes um cachorro que dança, um negro e seu ragtime de recreio, um casal de crianças que brinca de matar, um guerreiro panteísta, as planícies, a nesga de sol, a trégua de sombra) não tem tempo de chegarem a ser... ficam pelo caminho, mas não sem antes ter conhecido o “promesse de bonheur” de que fala Proust, o instante como Eternidade; Malick empresta ao mito ( o Filho Pródigo, o Bom selvagem, Noé), ao mundo arquetípico e acabado, o frêmito das coisas mal deslindadas do casulo, por-cerzir e por-vir. Com isso, temos um movimento sincrônico: Uma sobrevida ao mito, encarnado em corpos ungidos com a graça que Nietzsche encontrou na dança de Bizet ; e um hieratismo de marco imemorial ao dia recém-nascido, e já crepuscular.




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