sexta-feira, 30 de julho de 2010

Do trágico



“A motivação fundamental de todas as situações trágicas é o ato de partir ( Abscheiden), e neste caso não é preciso nem veneno nem punhal, nem lança nem espada; também é uma variação do mesmo tema o ato de se separar de uma situação habitual, amada, correta, seja por causa de uma calamidade maior ou menor, seja por causa de uma violência sofrida, que pode ser mais ou menos odiosa”.

Goethe, Sobre o trágico.


“O fator do trágico foi deslocado por Goethe da morte do herói trágico- cujas causas são o ímpeto e a violência, e cujos emblemas são o veneno e o punhal- para a despedida ( Abschied) de uma pessoa amada, ou o abandono de uma situação amada. (...) O significado que a despedida tem para Goethe pode ser medido pela importância que o presente e o instante assumem em sua poesia. (...) A despedida é unidade, cujo único tema é a divisão; é proximidade que só tem diante dos olhos a distância, que aspira pela distância, mesmo quando a odeia; é integração consumada pela própria separação, sua morte, como partida”.

Peter Szondi, Ensaio sobre o trágico.


“Quem nunca experimentou a necessidade de, ao mesmo tempo, olhar e ansiar por algo além do olhar dificilmente imaginará como estes dois processos subsistem lado a lado e são percebidos lado a lado, de modo claro e definido, quando se faz uma consideração do mito trágico. (...) Agora transponha este fenômeno do espectador estético para um processo análogo no artista trágico, e você entenderá a gênese do mito trágico. Ele compartilha com a esfera da arte apolínea o prazer total na aparência e no olhar, mas ao mesmo tempo nega esse prazer e encontra uma situação ainda mais elevada no aniquilamento do mundo visível da aparência”.

Nietzsche, O nascimento da tragédia.


“The greek word agalma, which designated statues, expresses well this original status of human facticia ( products, man-made objects). As Kérenyi writes, “this term does not indicate, for the Greeks, something solid and determinate, but… the perpetual source of an event, in which the divinity takes part no less than man”. The etymological meaning of agalma ( from agllomaí) is “joy, exultation”, Williamowitz tells of archaic statues that bear the inscription Chares, eim agalma toû Apollonos, which must be translated “I am Chares, statue and joy of Apollo”. The genitive here is subjective and objective in exactly the same degree. In the presence of these statutes it is wholly impossible to decide if we find ourselves before “objects” or “subjects”, because they gaze at us from a place that transcends our distinction subject/object. (…) At the limit, however, the same is true of every human creation, be it statue or poem. Only in this perspective will future anthropology be able to arrive at a definition of the status of the cultural object and to localize in its topos precisely the products of human ‘making’”.


Giorgio Agamben, Palavra e fantasma na Cultura Ocidental.


"Many attempted in vain to say the most joyful things joyfully; here, finally, they are expressed in mourning."


Holdërlin


“If the spirit does no become an image, it will be annihilated along with the world”.


Simon Magus.

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