sexta-feira, 30 de julho de 2010

Desonrada




"The three primary models of fetishism -- anthropological, Marxian, Freudian--all define the fetish as an object endowed with a special force or independent life. Marx called this transference, Freud called it overvaluation. In this sense the fetish is not a representation. It does not refer to something outside itself."





Christian Hubert





O fondu nunca deixa de se fundir totalmente; paira um momento, transfixado pelo fetichismo: quer se trate de traço mnemônico (MacLaglen lembra da carícia no gato de Dietrich, o mesmo gato que lhe aparece agora, numa ocasião e num país inauditos, e lhe informa da presença da espiã ), do registro documental da sordidez guerreira ( planos da batalha) ou do fascino erótico de uma troca ( venda?) de olhares entre Dietrich e a câmera ( com direito a um faux raccord magnífico onde ela recita, entre Fedra e Mistinguett, o seu credo de espiã e puta, diante de um MacLaglen que continua a interrogá-la, e ela a nós). A a luz transforma a todos em um mesmo fantasma de nitrato lírico ma non troppo, flutuante tela de tafetá que espraia, em um único e percussivo movimento, o corpo-mercadoria, o corpo-idólatra e o corpo-talismã de certos cultos primitivos.





Ps: clin d'oeil decadentista que antecipa Fassbinder, sobrevôo sobre os escombros da História - a História, este grande canteiro de obras- que nos sussurra ( ou antes: pisca): não, estes passarão; como todos, e tu, e tudo.

Nenhum comentário: