sexta-feira, 30 de julho de 2010






Camp is a form historicism viewed histrionically,

Philip Core.

Soube que Werner Schroeter morreu ontem. Na segunda-feira mesmo me dei ao fastio de ver Deux, creio que um de seus últimos filmes. Digo fastio porque tinha visto trechos, e acabei de confirmar que Schroeter tinha virado Schroeter, crime capital em matéria de arte: o filme é uma parábola sobre uma alegoria sobre uma cabala simbólica sobre duas irmãs gêmeas e incestuosas e uma mãe impossível, que elas só podem suportar estripada e Ursa maior... mas Schroeter- o Schroeter de Maria Malibran, de Palermo, de No reino de Nápolis, de Rei das rosas, O dia dos idiotas- foi nosso último grande alegorista; ao contrário de Godard, porém, este dialeta do collage, Schroeter privilegiou o plan tableau, a encenação suntuosa, o estertor operístico. Mas os estilhaços estão todos lá, contidos na mesma urna funerária. Schroeter nos ensinou- como Ruskin, Huysmans e Wilde, no século 19- que a grande tara decadentista é encasular o corpo arruinado numa obra de arte, túmulo ou crisálida. O credo destes filhos da Europa emasculada e esterilizada do pós-guerra é expresso neste trecho que encerra À sombras das raparigas em flor: ""(...) e enquanto Françoise tirava os alfinetes dos cortinados, despregava os panos, corria as cortinas, o dia de verão que ela ia descobrindo parecia tão morto, tão imemorial como uma suntuosa e milenária múmia que a minha velha criada não fizesse mais que ir cautelosamente desenfaixando de todos os seus panos, antes de fazê-la surgir embalsamada em sua túnica de ouro."

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