sexta-feira, 30 de julho de 2010

Le roi des cambrioles, 1906




Tout bouge, tout prolifére
... não apenas entradas e saídas de plano mas sobreposições ao plano(corpos que caem do teto), achatamentos sob o plano ( corpos que se espojam); horizontais, verticais, diagonais. O cinema de Méliès é um cinema em que a féerie instaura uma nova física, ou uma meta-física, uma física de plus: o maravilhoso como um transbordamento de entrechoques mecânicos e vibrações prismáticas. Como foi possível ao olho humano, entrincheirado pelo plano fixo, pelo ponto de vista único, se deixar percorrer por uma tal variedade de fluxos? Que nova modalidade de visão foi-nos necessária para apreender- se é que chegamos a apreender realmente- este surplus centrífugo de movimentos? A narrativa “clássica”- termo que merece mais do que nunca e sempre uma genealogia e uma arqueologia- foi um achatamento e um “enquadramento” das possibilidades intangíveis- e impossíveis?, ou compossíveis?- de desfibramento do espaço pelo tempo, do panóptico retilíneo do olhar pela palimpsêstica écriture do tempo?

Vamos à cata desta percepção e desta experiência? À cata deste cinema?

Ps: que se leia ècriture no sentido em que este deve ser definitivamente entendido: inscrição material num espaço-tempo determinado- mnemônico, figurativo, icônico- de um sentido. No caso, de uma variedade vertiginosamente ubíqua de sentidos-corpos-ritmos-formas.

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